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Ponta afiada

Não sei se é inevitável, mas bate sempre qualquer coisa cá dentro quando atributos que foram consideradas virtudes, durante séculos, perdem esse carácter.

Não creio que as actuais gerações de "jovens" olhem para a Paciência como virtude.

E não é dificil to make a point.

Basta ver o pessoal a desesperar quando uma página qualquer no smartphone demora a carregar um pouco mais do que é suposto.
Verdade seja dita, não é apenas malta mais jovem. Consigo identificar-me nesse grupo.

"Não há paciência!"
PQP! Não dá para esperar mais 5 segundos!? Ser paciente?

Não, não dá.

Entristece-me a quantidade de situações (não todas, mas mesmo assim muitas) em que ser paciente se cruza perigosamente com ser otário. Não o digo que seja, mas as coisas já se vão confundindo.

A paciência parecia ser um dos caminhos a percorrer para obter a melhor das recompensas.
Mas agora ninguém quer o melhor prémio, quer o possível. De preferência, de forma imediata.

Talvez não tenha nada a ver, mas sempre encarei o lápis - e o seu uso e abuso - como um excelente exemplo da prática da paciência, como uma virtude.

Cotos de lápis (meus)

Também acontece com esferográficas: quantos de nós poderão verdadeiramente assumir perante outros que já gastaram uma esferográfica? Que a estrearam e lhe acabaram com a tinta?
(Pequena nota lateral: passei na FNAC e, como sempre, dirigi-me às prateleiras onde está o material de escrita manual. Para meu espanto não havia quase nada... Perguntei a uma senhora que lá andava de colete fnaquiano o que era feito das canetas, esferográficas... ao que ela me respondeu, despreocupadamente, que já não havia disso).

Mas a minha cena é com os lápis.
Adoro estrear um lápis novo, mas não tanto quanto acabar com ele!
Usar e abusar da escrita com ele, afiá-lo, sentir o cheiro das aparas... até nada mais haver que um pequeno coto, daquilo que já foi um garboso e longo lápis.
Esse é o final que qualquer lápis merece, e não andar por aí, semi-coto (curiosamente, aqui o semi não é menos, é mais).
Tendo dado tudo de si, saco da caixinha onde ele terá o merecido descanso, não sem antes levar uma útima afiadela. Não é por se ter finado, que não descansará aprumado.

Esse momento é o meu prémio, a minha recompensa. A paciência compensou.

Sinto-me virtuoso.



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