Sou uma pessoa que pensa nestas coisas. Não tenho culpa. E não vou sossegar enquanto não descobrir, não quero ser a culpada causar qualquer transtorno.
É isso, sou uma pessoa cheia de altruísmo e de boa vontade, a solidariedade diz-me muito e vê-se também nas pequenas coisas. E também sou poupada, às vezes e no que posso.
Tudo começou com o aumento dos afazeres semanais e, para não gastar dinheiro em vão, passei a ir ao ginásio ao sábado e ao domingo.
Foi na aula de pilates que a vi pela primeira vez, passou pelo corredor a pestanejar muito. Situação que me levou a pensar se senhora será cega. Mas não trazia cão, não vinha agarrada a nada e também não bateu em lado nenhum. A senhora tem um ar frágil, mas isso não implica uma possível invisualidade, certo? E como estava a sair de uma aula, podia ter ficado debaixo de um foco de luz e quem tem algum tipo de sensibilidade ou fotofobia, está fodido.
Não tendo ficado com certezas absolutas, esqueci o assunto. Mas tive que me lembrar outra vez. No domingo, a senhora também veio para a aula de abdominais. Vi-a a descer uma escadaria que é perigosa até para quem vê, quanto mais para quem não vê. No entanto, ela desceu-a sem cair e sempre a pestanejar.
Para grande azar, ficou no colchão ao meu lado. Não consegui estar sossegada, é que pressionar a zona abdominal pode produzir alguns fenómenos e há também todos os outros odores inerentes ao exercício físico:
Não é cega. E se é cega? E se acontece alguma coisa? Dizem que quem não vê tem os outros sentidos mais apurados…. E se mato a mulher? E se alguém mata a mulher? E o cheiro a suor? E se a senhora fica agoniada? E se asfixia? MEU DEUS, preciso de saber se vê ou não vê!
Queria fazer-lhe a pergunta e acabar com esta dúvida, preciso de ganhar coragem. O Tato diz que não é preciso coragem. Diz que é preciso uma grande lata para fazer a pergunta. Mas que querem, glamour e classe não é a minha praia. Eu é mais altruísmo e curiosidade.
Mas pronto, pelo sim pelo não, vou preferir as bolachas de arroz às bolachas de milho. A nutricionista do ginásio diz que o milho tem um potencial maior para causar intolerâncias que o arroz. Ou seja, há fortes possibilidades de flatulência.
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