Quando não te impões - não pela força, mas pela força da tua personalidade, do teu carácter, da tua individualidade - tornas-te parte da paisagem.
Um objecto.
Um objecto não tem defesa. Apenas está. E apenas estar é a fase anterior ao deixar de ser.E quando não és, desapareces.
Fim? Não.
Desaparecendo, o teu espaço, que antes ocupava algo, torna-se vazio. Na sociedade não há espaços para vazios, e outro (outros) irão ocupá-lo, tornando-o seu.
A História está cheia de episódios de invasões e, por muito "civilizados" que sejam os invasores, as conquistas de novos mundos são quase sempre acompanhados com o pior das pessoas.
Marina Abramović experienciou isso, na primeira pessoa, quando apresentou em Nápoles, em 1974, a sua performance Rythm 0.
Durante 6 horas, "despersonalizou-se". Além dela, agora objecto, mais setenta e dois itens eram apresentados a quem assistia à sua performance. Os espectadores eram convidados a utilizar um deles, qualquer um deles (Marina incluída) da forma que quisesse, sem restrições. Uma arma, com uma munição, fazia parte desse espólio.
Não sendo encarada (ainda) apenas como um objecto, Marina foi acariciada, decorada com flores e bijuteria, pintada...
Mas à medida que o tempo passava, mais perdia a faceta humana perante a multidão. Perdia o seu espaço.
Terminou nua. Com uma arma carregada apontada a si. Violentada.
Comentou no final: “What I learned was that… if you leave it up to the audience, they can kill you.”
É uma performance extrema, mas no quotidiano estamos sempre em risco de passarmos por objectos, em pequenas doses, e não por isso menos importante.
O "eu", as "minhas ideias", o "meu tempo", o "meu espaço"... Não abram mão deles.
Se o fizerem, tornar-se-ão objectos.
E objectos, caro leitor, cedo ou tarde serão invisíveis.
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